domingo, 6 de dezembro de 2009

ADOLESCENTE ENFRENTA O DIABETES E TENTA LEVAR VIDA NORMAL

Edilene relata a força do filho Enrique diante o descobrimento da doença

Curso de inglês, educação física, andar de bicicleta e agora natação. Estas são algumas das atividades de Enrique Quidute Pinto, 12 anos, estudante do 6° ano e portador do diabetes tipo I. Entusiasmado, o garoto diz saber tudo sobre a doença: "Diabete tipo I é a que necessita de insulina para viver e a II é a que a pessoa não precisa de insulina, pois o pâncreas produz uma quantidade pequena. Já falei sobre diabetes para universitários e pessoas também com a doença”, revela orgulhoso.
O diabetes tipo 1 afeta cerca de 5% de todos os diabéticos. É conhecido também como diabetes juvenil ou diabetes insulino-dependente, pois o índice de diagnósticos do diabetes tipo 1 em crianças entre 10 e 14 anos é maior. Entretanto, pessoas de qualquer faixa etária podem desenvolver o diabetes tipo 1.
O diabetes é uma doença crônica que ocorre quando o pâncreas não produz insulina suficiente (tipo 1), que é o caso de Enrique, ou quando o corpo não pode usar efetivamente a insulina que ele produz (tipo 2). A hiperglicemia, ou o aumento do açúcar no sangue, é um efeito comum do diabetes sem controle que, com o tempo, leva a sérios danos a vários sistemas do corpo, especialmente nervos e veias. O nome "diabetes mellitus" significa "urina doce" e vem da Grécia Antiga, quando os médicos experimentavam a urina do paciente como parte do diagnóstico.

O CASO ENRIQUE
"Tudo começou quando ele tinha apenas cinco anos. Teve uma inflamação na garganta, moleza constante e a professora avisou que ele estava indo muito ao banheiro e bebendo muita água. Foi quando levamos ele ao médico e foi constatado o diabetes", contou a psicopedagoga Edilene Quidute, mãe de Enrique.
Desde então, o açúcar foi retirado de sua alimentação diária e as quantidades passaram a ser rigorosamente controladas. "Tenho ciência que preciso me cuidar. Como sempre o que posso", explica o garoto, que diz agir como qualquer outra criança. “Ando de bicicleta, brinco, estudo, faço atividades físicas. Sou igual a todo mundo”, diz o garoto sorrindo. Edilene explica que para um bom controle da doença é preciso a realização de atividade física diária e boa alimentação.

CONVIVER COM O DIABETES
O portador de diabetes tipo I, no qual o pâncreas não produz a insulina responsável pela síntese de açúcar no sangue, precisa aprender a conviver com a doença devido ao seu compromisso diário com medicamentos, restrições alimentares e atividades físicas. Tendo a ciência disso, Enrique faz tudo que é preciso, visando à estabilidade da doença e uma melhor qualidade de vida.
Ele possui uma espécie de diário onde são anotadas as aplicações de insulina e medição da glicemia. “Desde os cinco anos, é marcado tudo direitinho. Antes, era anotado pelos meus pais em um diário. Hoje, fazemos tudo no computador”, diz Enrique, que leva todo o material (medidor de exame, dois tipos de insulinas - basal e rápida - e fita) dentro de uma bolsa e faz aplicação dos dois tipos de insulinas diariamente em si mesmo. “Hoje em dia, boa parte da família, inclusive Enrique, sabe quando e como aplicar a insulina", diz a mãe de Enrique.
“Ele faz os exames dele quando necessário, seja na escola ou em qualquer outro lugar. Enrique começou a usar quando teve necessidade. Nós damos todo o suporte para ele, mas Enrique tem autonomia em tudo”, conta a mãe, orgulha.

SINAIS
Os sinais que ajudam os pais a desconfiar que o filho possa ter diabetes do tipo 1 são: sede e fome intensa, perda súbita de peso, urinar com mais frequência, cansaço e desânimo. São sintomas que, se não identificados, podem evoluir para quadro grave de desidratação e coma, com risco de morte.
A endocrinologista Ana Maira, que cuida de Enrique desde o descobrimento da doença, afirma que, em um primeiro momento, a notícia do diagnóstico do diabetes em uma criança tende a ser um choque para a família. “Trata-se de uma doença que não tem cura, assim, o médico dará o diagnóstico de uma doença que a pessoa terá que conviver pelo resto da vida. Por isso, a família tem um papel fundamental no descobrimento da doença”, comenta.


APOIO FAMILIAR É FUNDAMENTAL PARA PACIENTES DIABÉTICOS

“Nossa vida depois de 18 de julho de 2002 mudou. Diminuí toda minha carga horária e tive que trancar a universidade durante seis meses. Durante esse tempo, vivi exclusivamente para conhecer o diabetes. Dormia e acordava pensando na doença. Nós, eu e Ricardo (seu esposo), estudávamos sobre o assunto para saber o que, de fato, estava acontecendo e o que poderia vir acontecer com Enrique”, esse é o relato da mãe de Enrique, Edilene Quidute, sobre as mudanças sofridas após a descoberta da doença.
Segundo ela, a família fica desestruturada, pois tudo é novidade na vida de todos. “No início, claro, tudo é desesperador. Percebi que não poderia entrar em pânico, pois sabia que meu filho precisava de mim. Eu e meu marido sustentamos o sofrimento de toda a família. Então, a gente sabe que abala uma família inteira”, conta Edilene.
Toda rotina da família mudou. A mãe de Enrique conta que vai passando a ser rotina a medição de glicemia e o uso da insulina. “O que era desesperador, passa a ser controlado com mais naturalidade”, afirma, e salienta: “É uma doença crônica, a gente sabe que não tem cura. Você precisa conviver com isso”.
Ela dá um recado às pessoas que passam pelo mesmo problema. “O que eu posso dizer aos pais, ou para alguém que tem pessoas na família com diabetes, é estudar, ler e compreender como se dá a doença. Pois, foi dessa forma que consegui acalmar o meu coração para poder aceitar com mais naturalidade a situação”, Edilene orienta e revela que o artigo da sua pós-graduação é referente ao diabetes.

ACOMPANHAMENTO MÉDICO
Desde a descoberta da doença, a endocrinologista Ana Maira cuida do garoto. Segundo Edilene, o acompanhamento médico foi muito importante no processo de aceitação e no incentivo à família. “Todo esse incentivo que ela deu, a gente agradece. Ana Maira foi muito presente desde o começo na nossa vida. Prova disso, é a convicção de Enrique com a carreira profissional escolhida”, diz a mãe.
“Quero ser um endocrinologista. Até já tenho o meu estetoscópio”, diz o garoto sorrindo e mostrando o aparelho que recebeu de presente da médica. “Eu gosto muito dela. Ana disse que serei seu súdito”, conta o garoto.
Há 25 anos, a endocrinologista Ana Maira dedica seu trabalho ao tratamento de portadores de diabetes. Ela deixa claro que a família tem um papel “importantíssimo” na vida da pessoa que possui a doença. “No começo foi muito complicado. O período de aceitação é complicado para a família”, diz.
“O caso de Enrique não foi diferente das outras pessoas. Lembro bem as dificuldades passadas pela família. Mas, o importante é a explicação, colocar todos os pontos sobre a doença. E isso Edilene soube fazer direitinho”, afirma a endocrinologista. Entretanto, ela salienta que Enrique sempre foi uma criança tranqüila. É muito fácil lidar com ele”, afirma.

Por Williany Brito
(Matérias publicada no Jornal Folha do Estado, no dia 29.11.2009)

0 comentários:

Postar um comentário