quarta-feira, 14 de outubro de 2009

FEIRA REGISTRA 876 CASOS DE MÃES COM MENOS DE 18 ANOS, SÓ ESTE ANO

“Gravidez precoce envolve problemas físicos, emocionais,
sociais, entre outros”, diz especialista
A estudante J.S.S, de 13 anos, grávida de oito meses

A vida tranquila de criança deu lugar a preocupações e responsabilidades de adulto. Esse é o retrato, hoje, da vida da estudante J.S.S. Aos 13 anos, a menina está grávida de oito meses de um menino que já tem nome: Wellington Junior. Com o namorado, que faz “bico” como motoboy, a menina vive com os pais, Marivaldo Souza Santos e Jovelina Santos Santiago. “Preciso completar 16 anos para poder casar. Sei que vai ser difícil cuidar de um bebê no começo, mas preciso aprender. Acho que depois vai ficar mais fácil”, acredita a jovem mãe ao acariciar sua barriga.
A menina, que se prepara para ser mãe, é um exemplo da realidade brasileira. A gravidez precoce está se tornando cada vez mais comum na sociedade contemporânea, pois os adolescentes estão iniciando a vida sexual mais cedo e forma desprevenida. De acordo com dados da Secretaria de Saúde, em Feira de Santana, o número de meninas com idades entre 11 e 18 anos, que realizou parto em 2008, chegou a 1.002 casos, sendo que quatro foram de crianças. De janeiro a setembro deste ano, já foram notificados 876 casos de garotas que deram à luz até os 18 anos. Um número considerado alto na visão dos especialistas.
Pesquisa do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), intitulada Situação da Infância e da Adolescência Brasileira 2009 – O Direito de Aprender, mostra que 9,4 em cada mil bebês nascidos são filhos de mães menores de 15 anos de idade, no ano de 2006. Em 1994 eram 8,1. A informação do estudo é de 2006, quando Goiás registrou 821 nascimentos de bebês nascidos em gravidez precoce. Em 1994, segundo o levantamento, eram 513 bebês nascidos de mães menores de 15 anos.
Para o psicólogo Salomão Aguiar Costa, no Brasil a adolescência possui diferentes configurações, pois depende da classe social em que a criança e o adolescente estão inseridos. Mas, para ele ambos irão perder uma fase importante da vida e terão parte dos seus sonhos adiados. A gravidez na adolescência envolve muito mais do que problemas físicos, pois há também problemas emocionais, sociais, entre outros.
“Nas classes mais privilegiadas, é entendida como um período de experimentação sem grandes conseqüências emocionais, econômicas e sociais; o adolescente não assume responsabilidades, pois dedica-se apenas aos estudos (mesmo que adiados), sendo essa a sua via de acesso ao mundo adulto. Enquanto nas classes mais baixas, que representam um número maior de adolescentes com menos de 18 anos, os riscos do experimentar, tentar, viver novas experiências são maiores e não há a possibilidade de se dedicar somente aos estudos, tornando a adolescência simplesmente, um período que antecederá a constituição da própria família”, explica o psicólogo.

FALTA DE PREPARO
Segundo os especialistas, as mudanças físicas ocorrem devido ao aumento da produção hormonal neste período, o que pode provocar uma alteração das emoções, portanto, explicando a perda de controle e desequilíbrio psicológico da adolescente. “Se um adulto já sofre com uma gravidez indesejada, imagina uma criança, onde o corpo ainda não está suficiente maduro? A criança não tem noção das conseqüências e responsabilidades que vai ter que assumir quando o bebê nascer”, explica o psicólogo Salomão.
Ele acredita que as causas de gravidez precoce passam pela falta de informação da escola e da família, pela insegurança com o parceiro e terminam na fragilidade financeira ou afetiva da família. “A família é onde a criança deve ficar no contexto de harmonia, com dedicação total a ela, onde aprende os ensinamentos fundamentais da vida. Já a escola entra como um instrumento valioso nessa aprendizagem”, afirma o especialista, que salienta que a educação sexual deveria ser uma alternativa no combate a gravidez precoce. “Falando sobre sexo desde pequenos, os adolescentes vão aprender a lidar com o tema com mais informação e responsabilidade”, diz.
“As meninas brasileiras ainda têm que enfrentar muitas barreiras. Ter um filho sozinha é muito triste. Desde o começo até o final da gravidez, ainda mais quando se é abandonada pelo namorado, que é preciso da ajuda da família para cuidar da criança. Daí, há um conflito. Mistura a frustração e a cessação de arrependimento com o amor e apego a criança. Não tem como não mexer com a cabeça delas, ainda mais tão jovens”, afirma o psicólogo.

Por Williany Brito

(Matéria publicada no Jornal Folha do Estado, no dia 11.10.2009)

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