Duque-Estrada, autor do Hino Nacional Brasileiro
Há 100 anos surgiu um poema. Um poema que nasceu hino. Quando o poeta e crítico literário Joaquim Osório Duque-Estrada nasceu, em 1870, no município de Vassouras (Rio de Janeiro) os acordes do Hino Nacional brasileiro, criado pelo músico Francisco Manuel da Silva, já soava em festividades importantes há quase 40 anos. Apenas em 1909 a letra escrita por Duque-Estrada juntou-se à música depois de escolhida em um concurso.
Francisco Manuel era um músico de muito prestígio no Rio de Janeiro, então capital federal. Estudou com o Padre José Maurício Nunes Garcia, um dos maiores nomes da música colonial brasileira, e foi nomeado cantor da Capela Real em 1809, com a chegada da corte portuguesa ao Brasil. Tocava piano, violino e órgão, além de organizar e dirigir conjuntos musicais e destacou-se, também, como regente e promotor do ensino organizado de música.
O Hino Nacional Brasileiro já teve duas versões. A primeira foi executada em 1831, quando houve a abdicação de Dom Pedro I. A outra é do tempo de Dom Pedro II. Com a República, o novo Governo decidiu eliminar as lembranças do Império. Um concurso, portanto, escolheu o novo hino, que o povo não gostou. Para agradar, a música foi mantida e um novo concurso elegeu outra letra. Ganhou a escrita por Osório Duque-Estrada em 1909, que é a versão cantada até hoje.
Um dos registros mais antigos do hino nacional foi escrito à mão pelo próprio autor, Osório Duque-Estrada. O documento está guardado nos arquivos da Academia Brasileira de Letras, no Rio de Janeiro, e é datado de 1922. São duas folhas simples de papel almaço.
Para o presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Feira de Santana, Nilton Bellas Vieira, o Hino Nacional é de grande relevância para a sociedade brasileira. “Inspira um sentimento patriótico da mais pura nacionalidade. Através da elaboração da sua letra, encontra-se a narrativa fiel do verdadeiro por vir. Trata-se de uma peça descritiva, em que ficam registradas todos os fatos relacionados com um sentimento de uma liberdade tão almejada, que foi protagonizada pelos diversos movimentos cívicos e patrióticos, a exemplo da Inconfidência Mineira e a própria Abolição da Escravatura”, conta o presidente.
A lei vale para os ensinos fundamental e médio
No mesmo ano, 2009, em que se comemora o centenário do Hino Nacional Brasileiro, foi aprovada a Lei n.º 11.769 que define que o Hino Nacional deverá ser executado uma vez por semana nas escolas públicas e privadas de ensino fundamental e médio. Colégios de todo o país terão três anos para inserir no currículo da educação básica o ensino da música.
A Lei foi sancionada na última segunda-feira (18) pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e publicada no Diário Oficial da União. A proposta é de autoria da senadora Roseana Sarney (PMDB-MA) e altera a Lei de Diretrizes e Bases da Educação - LDB, que já determina o aprendizado de arte nos ensinos fundamental e médio, mas sem especificar o conteúdo.
O projeto acrescenta um parágrafo a uma lei de 1971 que trata sobre os símbolos nacionais. Essa lei já obriga a execução do hino nas escolas durante o hasteamento da bandeira, mas não definia a frequência com que ele deveria ser cantado pelos alunos.
Marcelo Soares Pereira da Silva, diretor de Concepções e Orientações Curriculares para a Educação Básica do Ministério da Educação - MEC, disse que a lei vale para os ensinos fundamental e médio, mas as definições sobre em quantos anos o ensino de música será ministrado e com que periodicidade vai caber aos conselhos estaduais e municipais de Educação, em parceria com os governos locais.
Para o presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Feira de Santana, Nilton Bellas Vieira (foto), o cântico do Hino Nacional Brasileiro não deveria ser obrigatório, nem imposto pela legislação. “Cantar o Hino deveria partir, voluntariamente, de cada jovem nas comunidades em que vivem. O amor ao Hino deveria ser um sentimento natural, brotado dos corações dos brasileiros”, declara Nilton. Segundo ele, “o Hino Nacional é a mensagem mais autentica que se escreveu até hoje, independente de qualquer peça literária”.
“O Hino é a origem e a cultura nacional. Quem é brasileiro de verdade tem que saber cantar”, diz Jéssica Silva Costa, de 14anos, (foto) estudante da 8ª série. Segundo a diretora da escola onde Jéssica estuda, Estela Melo, ela aprendeu cedo a entender e a cantar a música. “Não cantamos na escola semanalmente o Hino Nacional. Eles não podem sentir-se obrigados a cantar, isso assusta as crianças e faz com que ela desdenhe o momento. Aqui no colégio, incentivamos, na 4ª série, o aluno a cantar e, principalmente, entender, já que existem trechos complicados de serem compreendidos, ainda mais para eles que são pequenos demais”, explica a diretora.
“Acreditamos que a melhor forma é ensinar as crianças a ter respeito com a pátria, é deixando-as conscientes, e não as obrigando a fazer uma coisa que não compreende a importância”, finaliza Estela.
Por Williany Brito (Matérias publicadas no Jornal Folha do Estado, no dia 22.08.2009)