quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

GAMES VIOLENTOS AMEAÇAM INTEGRIDADE JUVENIL

Jogos de conteúdo violento fazem sucesso entre os jovensGTA é um dos jogos eletrônicos mais vendidos nomercado brasileiro

O Grand Theft Auto (GTA) é um jogo eletrônico em que, para sobreviver na cidade grande, o jogador tem que praticar vários crimes: matar velhinhos, roubar carro, assaltar banco, explodir pessoas. GTA é um dos jogos eletrônicos mais vendidos no mercado brasileiro e está fazendo sucesso entre crianças e adolescentes. Mas ele não é o único game com conteúdo violento. Nascar também está entre os preferidos dos jovens. O problema é que a maioria não sabe as consequências que esses jogos podem causar na vida dos usuários, interferindo na própria família e, às vezes, na sociedade.
Nos Estados Unidos, a Entertainment Software Rating Board, agência que regula os programas de entretenimento, classificou o GTA com a letra M, de mature (maduro, ou adulto). Nesse caso, a agência norte-americana liberou o jogo para maiores de 17 anos. Já no Brasil, o Ministério da Justiça classificou o jogo para maiores de 18 anos, mas a classificação serve mais para orientar a ação dos pais do que para impedir a venda, já que se pode comprar livremente o GTA e outros jogos com conteúdo violento no mercado paralelo ou baixar pela internet, gratuitamente, as versões mais antigas.
Segundo a especialista em psicopedagogia e formação em educação especial, Érica Soares, existe um diferencial entre os veículos de mídia com as de publicidade. “Essas duas questões mexem com muita gente bastante poderosa, não só na questão do poder aquisitivo financeiro, mas no poder de manipulação e de controle. Nenhuma propaganda é feita por acaso, sempre há uma intenção, uma psicologia de venda, de consumismo, passando a mensagem de maneira subliminar. Então, esses jogos não são diferentes”, explica.
A psicóloga afirma que em seu consultório já houve casos de pacientes que agiram com violência contra a própria mãe, quando ela o proibia de jogar o GTA. “Nesse caso, é necessária a busca por um especialista”, orienta.

APRECIAÇÃO DO TRÁGICO
A psicóloga diz que o ser humano aprecia o trágico, pois existem componentes emocionais psicológicos que são incitados à violência. “Aquilo que eles veem muitas vezes é uma forma deles saciarem algum componente agressivo que tem dentro dele, por isso há mudança em seu comportamento”, esclarece a especialista.
Em 2008, segundo o site Kotaku, o americano Carl Edwards tentou usar um macete amplamente conhecido em games de corrida (como Nascar) para ultrapassar seu adversário Jimmie Johnson, jogando seu próprio carro contra uma parede de concreto numa corrida que aconteceu em Kansas City. Com a manobra, Edwards tentou recuperar sua liderança perdida momentos antes do final da prova, mas apenas acabou abrindo espaço para que seu rival terminasse a prova em primeiro lugar.
No videogame, o carro poderia continuar a fazer a curva sem sofrer uma brusca redução na velocidade. Edwards acreditou que, já que desenvolvedores investem tanto em realismo na física dos jogos, a tática poderia ter sucesso também na competição real.
Também em 2008, um adolescente matou um taxista na Tailândia e culpou jogo GTA. O adolescente confessou o assalto e homicídio de um motorista de táxi em uma tentativa de recriar uma cena do jogo. A polícia informou que o jovem, jogador obsessivo de GTA, não mostrava sinais de problemas mentais durante o interrogatório, e que havia confessado ter cometido o crime por causa do jogo.

Boa formação é importante
na vida do indivíduo, diz especialista

Hoje existem grandes lacunas no núcleo familiar. As crianças estão muito propensas a qualquer estímulo externo que venha a preencher, a satisfazer carências das quais os pais não têm dado conta. Tempo, carinho, atenção, os verdadeiros princípios morais e éticos estão distantes do universo de pais e filhos.
É o que explica a psicóloga especialista em psicopedagogia e formada em educação especial, Érica Soares (foto). Segundo ela, o cuidado exige tempo – e a família não tem tido tempo nem paciência. “Os filhos estão à deriva. Eles ficam muitos soltos, sem limites. Não tem hora de lanchar, ficar no computador, horário para jogar esses jogos. Então, desprovidos disso, eles ficam vulneráveis a qualquer estímulo. Eles irão se influenciar com aquilo que vai o alimentar de alguma forma, preencher seus vazios existenciais”, explica a psicóloga.
De acordo com Érica, as crianças que não têm atenção e afeto dos pais são mais fáceis de ser manipuladas por esses jogos que induzem à violência. Ela explica por que isso acontece: “Hoje, os filhos são um projeto e não mais uma programação natural de um casamento. O filho vem de forma indesejada, desprogramada. Então, isso vai ter uma influência na postura do pai e da mãe na criação do filho”.
A especialista diz que tudo é lançado para o trabalho: “‘Não tenho tempo’, ‘A minha realização profissional vem primeiro’ ou, então, ‘Eu trabalho para lhe dar todo o luxo, tudo que você precisa’. Isso não pode acontecer. Quando os pais chegam aqui (no consultório) dizendo que não sabem o problema do filho, que não o aguenta mais e que ele tem tudo que sempre quis, já se estabelece um ponto de partida de uma problemática”.
Segundo ela, o indivíduo não pode ter tudo o que quer, ou o que ele pensa que deseja. Principalmente uma criança, pois não tem uma noção, ainda, do que é bom e ruim. Quem vai desenvolver isso na criança, de acordo com ela, são os adultos significativos, geralmente os pais ou os responsáveis que cuidam dela.

INFLUÊNCIA DO AMBIENTE
Baseada em Freud, pai da psicanálise, a especialista explica que um ambiente familiar bem estruturado e boa formação de juízo moral de valor são importantes na vida do indivíduo. Uma vez com as leis e normas éticas internalizadas, a criança e o adolescente vão poder jogar um game, assistir a um filme sem que isso venha interferir e incitar a fazer algo ilícito.
“A violência, agressividade, erotização do corpo infantil, que são bastante veiculados na mídia e na publicidade, são energias. Tanto a sexualidade quanto a agressividade são energias, instituídas assim por Freud. O que vai fazer com que eu, ao assistir um filme como ‘Um dia de Fúria’, onde o protagonista se esquentou e saiu matando todo mundo, e amanhã não sair com um rifle, assassinando pessoas? O que vai me fazer frear esse tipo de atitude é a minha formação moral, que se dá entre 8 e 10 anos. Quem faz isso é a família, que deve ser a base”, esclarece a psicóloga.
Para os jogadores, o grande atrativo é que o brinquedo dá mais de 10 mil opções do que fazer em uma cidade grande. “Cada vez que se joga, é um jogo diferente. Não precisa seguir rigorosamente um roteiro”, explica o policial militar Williamy Silva, que já jogou o GTA. “Deixaria meu filho jogar. Penso que não é bem assim: ele joga e sai fazendo atos ilícitos. Nós como responsáveis, devemos impor limites aos nossos filhos. Não podemos deixar eles 24 horas por dia na frente de um vídeo game”, salienta Williamy.
A psicóloga explica que não são todas as pessoas que jogam esses tipos de jogos que são influenciados a fazer coisas erradas. “Dificilmente uma pessoa que foi bem criada, que se sente amada, vai praticar os mesmos atos que faz ao jogar vídeo game”, salienta Érica Soares.

Especialista orienta pais
no cuidado com os filhos
A psicóloga Érica Soares apresenta duas formas para os pais orientarem seus filhos (crianças e adolescentes) quanto aos cuidados com os hábitos diários, com objetivo de evitar transtornos familiares. Ela cita dois níveis: o preventivo e o já instalado.
“O nível preventivo seria tomar cuidado com quem são deixados seus filhos, pois avô, tia, secretária, ninguém tem a responsabilidade de cuidar deles. Se seu filho está com alguém, é preciso que você ligue para saber o que ele está fazendo, se já estudou, comeu... Eles devem ter horários estabelecidos para tudo: estudar, brincar, ficar no computador, comer. Se estou criando um filho para vida, como vou poupá-lo dessa realidade? Temos que ter esse controle sobre a criança.”, orienta a psicóloga.
Uma vez instalado o problema, fica mais complicado para ser resolvido. “Se já chegou ao ponto dele não estudar, não comer para se dedicar ao jogo, é hora de procurar ajuda profissional, porque já é percebido que os pais estão extremamente perdidos em relação a esse filho; e o filho, também, já entrou no processo de vício, de dependência dessa situação. Para se desfazer do que venha de encontro a isso, é algo que ele extermina, tenta tirar do caminho dele. Ele já perdeu a noção daquilo que é saudável para ele. Por isso a importância do profissional, tanto para os pais quanto para os filhos, pois é preciso resgatar a moralidade, o juízo de valor, os limites”, conclui.
Por Williany Brito
(Matérias publicadas no Jornal Folha do Estado, no dia 24.01.2010)

3 comentários:

Anônimo disse...

Depois quero conversar com vc sobre essa matéria. Agora estou bebado demais pra tecer um comentário inteligente como o assunto merece, mas acho que vc vacilou bastante nesse artigo.
Por exemplo: Os jogos da série GTA (não existe O jogo GTA) sempre foram para 13+ anos, apenas o ultimo, GTA San Andreas, foi reclassificado como M depois que descobriram como acessar conteudos pornograficos escondidos.
O resto do assunto conversamos em off.

Ass: Bebinho.

PS: Apesar de não ter gostado da matéria, tb te adoro viu? =*

Anônimo disse...

Realmente... não foi um comentário inteligente. Não seja mais precipitado, Edson Lucas. ;)

Willy

Anônimo disse...

Gostei da matéria. Bastante informativa. Principalmente quando a especialista fala dos cuidados com os filhos. Eu tenho dois, e procuro evitar certos tipos de filmes e games violentos. Os pais devem, realmente, observar o que os filhos andam fazendo.

parabéns.

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